sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

A Aranha


A ARANHA


A ARANHA do meu destino
Faz teias de eu não pensar.
Não soube o que era em menino,
Sou adulto sem o achar.
É que a teia, de espalhada
Apanhou-me o querer ir...
Sou uma vida baloiçada
Na consciência de existir.
A aranha da minha sorte
Faz teia de muro a muro...
Sou presa do meu suporte.

Fernando Pessoa





A aranha do meu destino / Fez teias de eu não pensar. O sujeito poético quer dizer que, por nunca ter pensado no seu futuro, teias de aranha ocuparam o espaço que na maioria dos homens é ocupado pela prevenção, pelo planeamento. Ele nunca planeou o seu futuro, só se preocupava com o presente e - em certa medida - pelo passado.


A referência a uma aranha é - talvez - uma subtil ironia à lenda grega das tecelãs do destino. Chamavam-se Moiras (os romanos chamavam-lhes Parcas) e eram três deusas que teciam o destino dos homens.

O sujeito lírico diz que a aranha (as deusas) não se preocuparam em tecer o seu destino, por duas razões: por ele em criança já "ser adulto sem o achar", ou seja, ter crescido de repente contra a sua vontade; a segunda razão  diz ser a rede ter-lhe apanhado "o querer ir", ou seja, o próprio presente (agora já passado) impediu que ele tivesse o destino - o destino ficou preso por causa do que lhe aconteceu quando era criança.

Assim ficou o sujeito poético, "uma vida baloiçada", como uma mosca presa numa rede, viva e só à espera da morte para desaparecer. O estar preso na rede, com a "consciência de existir", é a sua pena pelo que lhe aconteceu.


...//...

O verso ”A Aranha do meu destino”, refere-se ao rumo que a vida do sujeito lírico levou, afinal não se pode fugir ao destino.

O verso “Faz teias de eu não pensar”, de certa forma pode ser encarado como uma ironia, podemos falar no caso de quando uma casa por exemplo é desabitada, passado algum tempo a casa acaba por ganhar teias, o eu intelectualiza o pensamento, ou seja, ele pensa nas coisas da vida “não ganhando assim as teias dentro da sua cabeça”.
O sujeito poético, quando era criança “menino”, não sabia “não soube” se era feliz, pois as crianças não racionalizam, mesmo assim agora em adulto ele tem a consciência, que quando era criança era feliz, pois agora já racionaliza, vem daí “na consciência de existir”, isso vai trazer reflexos como, o seu passado (infância) ser idealizado, pois é uma época em que tudo é possível, no mundo das crianças não há impossíveis, ao contrário da prisão intelectual do presente.
Os últimos dois versos, dão a sensação de a teia ser como uma espécie de prisão.  Referem-se a algo que esteja preso, a ideia de fazer teia de muro a muro, e de ele estar na “prisão”, e ser a presa, da própria teia “suporte”, ou seja do próprio destino, nós como seres humanos, envolvemo-nos na teia para encontrar o nosso destino.


Sara Anjo, 12.º ano

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