domingo, 23 de março de 2014

Pura ilusão



Primeiro foi um olhar, depois um sorriso contido, um doce pestanejar verde... Os olhos afastaram-se. Ela enrubesceu. Torceu as mãos. De repente, não sabia o que fazer com elas. Baixou os olhos, enterrando-os no chão.
Ele riu do seu embaraço, parecia-lhe uma menina que acabara de fazer uma traquinice. Aproximou-se. Como ela mantinha a cabeça baixa, com um dedo, levantou-lhe o queixo. Sorriu-lhe descaradamente. Ela levantou os olhos e franziu a testa. Levantou a sobrancelha esquerda, questionando, fazendo uma, muitas... perguntas mudas... Ele continuava a sorrir-lhe. Ela inclinou um pouco o rosto, olhando-o de lado, à espera de respostas.  
Sonhou tanto com aquele encontro e agora parecia uma pateta. Não sabia o que fazer, o que dizer.
- Não sabes onde colocar as mãos? – perguntou-lhe, algo divertido.
Ela não respondeu, sorriu. Ele estendeu-lhe a sua mão:
- Uma vem para aqui! É da minha... A outra logo achará o que fazer.
Sem saber porquê, deu-lhe a mão. Ele agarrou-a, afagou-a, apertou-lhe os dedos.
 Tens umas mãos bonitas, dedos compridos, unhas bem feitas... Tens mãos de artista! És, com certeza, muito habilidosa.
Sorriu-lhe.
Ele levou-lhe a mão aos lábios e beijou-lha levemente.
- É suave a tua pele. Vamos.
Puxou-a pela mão e correram pela estrada como dois miúdos.
- Vou mostrar-te uma coisa.
O sol descia lentamente. O dia corava. Lá ao longe a água rebrilhava. Era o rio que desaguava no mar, onde o doce licor se misturava com a água salgada. E o sol deitava-se sobre as águas num colorido cintilante, faiscante.
- Que lindo!
Pararam a olhar o horizonte tingido, deslumbrados.
Ao seu redor, passavam apressadas as pessoas que tinham urgência em chegar a casa. Não olhavam o rio nem o sol e até eles lhes eram totalmente invisíveis.
De mãos dadas, ficaram a olhar para a linha que tocava o céu.
- Tenho vontade de te beijar!
Largou-lhe a mão, virou-a para si. Ficaram frente-a-frente. A luz do pôr-do-sol flamejava à volta dela. A brisa suave agitava-lhe os cabelos louros. Parecia-lhe irreal, uma ilusão, um sonho... Pestanejou várias vezes para se certificar que era real...
- És tão bonita! – disse num tom sério.
Ela sorriu. Os olhos de ambos encontraram-se. Ele sorriu. Puxou-a para si, pela cintura, e beijou-a suavemente.
- Os teus lábios parecem de veludo.
Apertou-a mais contra si e ela deixou-se ir. De repente, já não havia rio nem mar nem sol... Tudo desaparecera.
Abriu os olhos, passou as mãos pelo cabelo, pela boca a arder, a pulsar...
As pessoas corriam. Lá longe, o sol afogava-se no mar sem um grito, sem um ai...
Ergueu-se, compôs a blusa que lhe descaía do ombro. Sorriu. Olhou em redor. Estava só. Ao lado, uma multidão azafamada... Todos tinham pressa de chegar a casa!

1 comentário:

Nilson Barcelli disse...

Adorei o texto.
Uma história linda, apesar de simples.
Rita, tem uma óptima semana.
Beijos.