sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A escola vai ao teatro - Jojo, o reincidente

Daqui!


Hoje, levei os meus alunos ao teatro, no CCC. Fomos ver "Jojo, o reincidente", de Joseph Danan, levado à cena pelo Teatro da Rainha.

Segundo o encenador Fernando Mora "Jojo é um miúdo que está fechado em casa e que dentro da casa tem de inventar o exterior, e fá-lo com o que tem à mão, objectos da cozinha, móveis, cadeiras, etc.."
Pensada para crianças, mas dirigida para todas as idades, a peça, quase sem diálogos, desenvolve-se em torno das "reincidências" que valem a Jojo diversas bofetadas de uma mãe que o encenador considera simbolizar "o poder" de tentar "manter a ordem" na casa onde as brincadeiras "geram a desordem".


Jojo, como todas as crianças, cria o seu mundo, não aceita o mundo que lhe põem à frente. Ele constrói e inventa outras coisas com os objectos que encontra à mão, pela casa, fazendo da sua casa o mundo que ele quer. Por vezes, leva uma estalada da mãe, pois ela não aceita as brincadeiras do filho: que é lá isso de empilhar as cadeiras para construir uma torre? E que é isso de dar um concerto musical, utilizando as peças do aspirador, desmembrando-o? E uma fogueira no meio da sala para brincar aos Índios? É um mundo incompreendido pelos adultos, pela mãe, este mundo de Jojo...


Hesitei durante muito tempo em relação ao título. Durante bastante tempo, a peça chamou-se Tom, o reincidente. Mas senti que não era aquilo. Experimentei outros. Jim, o reincidente. Paulo, o reincidente. Com Pierrot, o reincidente, acreditei mesmo que era aquilo. Mas a valsa continuou. Jimmy. Nicolas. Lulu. Toto. Nunca era aquilo! Até que enfim se fez luz. Ia ser: Jojo, o reincidente! Vá-se lá saber porquê! Iam dizer-me mais uma vez que era uma peça autobiográfica. Ora eu sei-o bem: Jojo e eu somos dois, mesmo, se durante anos na minha família me chamassem Jojo (Até eu dizer: Stop! Porque já não aguentava mais). Eu, ao contrário do Jojo, era uma criança ajuizada, talvez demasiado ajuizada (Ai! Sinto que os meus pais dão voltas.). E a minha mãe nunca me deu a mais pequena bofetada (o meu pai também não, aliás). Ponho uma hipótese: é que as asneiras, eu não as fazia, porque era eu que dava a mim próprio a bofetada antes de as fazer – tenho a certeza que percebeste muito bem.
Agora cresci (pouco… mas agora, com cinquenta anos, já não tenho ilusões, não vou crescer mais), escrevo peças em que posso fazer tudo o que quero sem apanhar uma bofetada. E ensino teatro na universidade a grandes rapagões e grandes raparigas a quem não preciso de dar bofetadas para eles trabalharem, porque eles gostam disto!

joseph danan



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