terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Frei Luís de Sousa - Romeiro

Personagens


Romeiro


O Romeiro apresenta-se como um peregrino, mas é o próprio D. João de Portugal. Os vinte anos de cativeiro transformaram-no e já nem a mulher o reconhece. D. João, de espectro invisível na imaginação das personagens, vai lentamente adquirindo contornos até se tornar na figura do Romeiro que se identifica como "Ninguém". O seu fantasma paira sobre a felicidade daquele lar como uma ameaça trágica. E o sonho torna-se realidade.


Casado com D. Madalena, mas desaparecido na Batalha de Alcácer Quibir, revela-se como:

- Uma existência abstracta (uma espécie de fantasma omnipresente) até à cena XII do acto II, inclusive, permanecendo em cena através dos receios evocativos de Madalena, da crença de Telmo em relação ao seu regresso e do sebastianismo de Maria (se D. Sebastião pode regressar, o mesmo pode acontecer em relação a D. João de Portugal);

- Uma existência concreta a partir da cena XIII do acto II:

- regressa a Portugal ao fim de 21 anos, depois de ter passado 20 em cativeiro, em África e na Ásia, surgindo na figura do Romeiro (mesmo assim, a sua identidade só é revelada no final do acto II);

- procura interferir voluntariamente na acção dramática, tentando impedir, com a cumplicidade de Telmo, a entrada em hábito de Madalena e de Manuel de Sousa;

- acaba por assistir à morte de Maria e à tomada de hábito dos ex-cônjuges.


O Romeiro ou D. João de Portugal é a personagem sempre presente ao longo da peça, apesar de primar pela ausência. Toma diversas formas: personagem apenas referida; personagem simbólica, onírica, presente nos agouros de D. Madalena, ligada ao sebastianismo, às suspeitas de Maria e esperanças de Telmo e personagem “disfarce”, responsável pela Peripécia e Anagnórise / Reconhecimento, num espaço e tempo da representação e como motor e desfecho do conflito dramático: a morte de Maria (morte física), Manuel de Sousa e D. Madalena (morte psicológica). Apesar de D. João de Portugal ter determinado esta Catástrofe, fê-lo inconscientemente em consequência de pretender reaver a sua posição na sua casa e na sua família; de notar o seu elevado carácter pela renúncia ao seu lugar, uma vez constatados os inúmeros esforços empreendidos por sua esposa, a quem agora não quer punir, transferindo tal sofrimento para si próprio (“Agora é preciso remediar o mal feito. Fui imprudente, fui injusto, fui duro e cruel. (…) dize-lhe que falaste com o romeiro, que o examinaste, que o convenceste de falso e de impostor… dize o que quiseres, mas salva-a a ela da vergonha (…)”; “Vai, vai; vê se ainda é tempo: salva-os, salva-os, que ainda podes…”)

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