segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Poeminha sobre o tempo

Poeminha sobre o Tempo

O despertador desperta,
acorda com sono e medo;
por que a noite é tão curta
e fica tarde tão cedo?


Millôr Fernandes

ATAQUE À CLASSE MÉDIA


Lembram-se de Colbert e Mazarino (cardeal)?

Pois aqui vai um diálogo entre estas duas personalidades que é de uma grande actualidade não obstante serem passados alguns séculos.

Algumas coisas nunca mudam...


Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV:

Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço…

Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado… o Estado, esse, é diferente! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se…

Todos os Estados o fazem!

Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: Criam-se outros.

Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: Sim, é impossível.

Colbert: E então os ricos?

Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert: Então como havemos de fazer?

Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável.

in Le Diable Rouge


domingo, 30 de janeiro de 2011

O artigo de apreciação crítica

Um artigo de apreciação crítica consiste num texto que se baseia na análise de uma obra, de um livro, de uma acção ou de uma ideia sob o ponto de vista de quem o escreve. Uma apreciação crítica consiste em analisar quer os aspectos negativos quer os aspectos positivos do objecto em análise. Neste tipo de texto predomina uma linguagem subjectiva, na medida em que quem o está a elaborar expressa os seus pontos de vista e juízos de valor. Os artigos de apreciação crítica podem ser de âmbito cultural, económico, político e social.

Um artigo de apreciação crítica é um texto crítico, onde o emissor exprime a sua opinião (favorável ou desfavorável) a propósito de determinado facto narrado, ideia apresentada ou objecto descrito. Podemos elaborar um artigo de apreciação crítica a partir de um livro, de um jogo, de um filme, de uma peça de teatro, etc..


O texto crítico


ESTRUTURA

- Introdução: Breve apresentação do facto, ideia, objecto que está na origem do texto crítico.

- Desenvolvimento: Processa-se a apreciação crítica do texto:

- síntese de opiniões/apreciações pessoais (Gosto/não gosto...);

- momentos argumentativos: fundamentação das opiniões formuladas através de argumentos objectivos;

- possíveis citações do texto-fonte.

- Conclusão: Referência às ideias mais relevantes.


LINGUAGEM

- Utilização de frases predominantemente declarativas e exclamativas.

- Recurso a uma linguagem valorativa ou depreciativa conforme se queira manifestar agrado ou desagrado.

- Selecção de um título sugestivo.

- Uso de figuras de estilo que estejam de acordo com as intenções da crítica (hipérbole, metáfora, comparação, ironia, etc.).


Como redigir um artigo de apreciação crítica?


1. Regista, em forma de tópicos:

- os aspectos que mais gostaste;

- os aspectos que menos gostaste;

- os argumentos que fundamentam a tua apreciação.


2. Enumera os tópicos que registaste segundo a ordem que consideras mais coerente.

3. Redige:

- a introdução, apresentando o objecto em análise e a tua perspectiva crítica de forma reduzida;

- o desenvolvimento, baseando-te na enumeração que fizeste e expondo os motivos que fundamentam a tua apreciação inicial;

- a conclusão, expressando sumariamente as tuas considerações finais.


Verifica:

- se expressaste os pontos de vista que adoptaste;

- se encadeaste os tópicos e os argumentos de forma lógica;

- se empregaste um vocabulário adequado à linguagem valorativa ou depreciativa que pretendes utilizar.


Pergunta Retórica


O texto de apreciação crítica também se serve de estratégias argumentativas para dar credibilidade ao ponto de vista apresentado.

A pergunta retórica ou interrogação retórica permite despertar no leitor uma reflexão acerca do que se questiona. Esta estratégia argumentativa permite captar a atenção do leitor para o que vai ser dito condição essencial para o persuadir.


sábado, 29 de janeiro de 2011

Marmoreado de pêssego

1 embalagem de gelatina de pêssego
4 dl de água + 3 dl de água
200 ml de natas
1 lata de pêssegos em calda

Prepare uma saqueta de gelatina com 0s 4 dl de água a ferver. Deite na forma e reserve no frigorífico.
Escorra os pêssegos e reduza a puré, guardando 2 ou 3 metades para decoração.
Prepare a outra saqueta de gelatina com os 3 dl de água fervente.

Adicione à gelatina o puré de pêssego e as natas e envolva bem.

Deite esta mistura sobre a gelatina reservada no frigorífico e vá rodando a forma para que os dois preparados se misturem levemente, criando um efeito de pedra mármore. Leve ao frigorífico.

Desenforme, enfeite com as metades de pêssegos reservadas e...
Delicie-se!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Malmequer, bem-me-quer...

O malmequer que arrancaste
Deu-te nada no seu fim,
Mas o amor que me arrancaste,
Se deu nada, foi a mim.

Fernando Pessoa


As mãos

Que tristeza tão inútil essas mãos
que nem sempre são flores
que se dêem:
abertas são apenas abandono,
fechadas são pálpebras imensas
carregadas de sono.

Eugénio de Andrade

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Petição em prol da Escola Pública

Petição Em prol da Escola Pública

Para:Exmo. Senhor Presidente da República; Exmo. Senhor Presidente da Assembleia da República; Exmos Senhores(as) Deputados(as) da Assembleia da República

Os professores vêem, dia após dia, os seus direitos desrespeitados, por parte daqueles que foram eleitos para “garantir os direitos fundamentais dos cidadãos” consignados na Constituição da República Portuguesa (CRP). Menosprezam o seu trabalho e põem em causa a sua dignidade, direito consignado no artigo 1º da CRP, e, sem escrúpulos, fazem questão de o alardear. Mas o desrespeito pelos direitos da classe docente não se cinge aos ataques à sua dignidade e ao seu profissionalismo, ameaça, agora, os seus postos de trabalho.
Como qualquer pessoa de bom senso pode corroborar, esta situação abala a necessária estabilidade emocional para levarem a cabo tão importante e nobre missão, que é a Educação das crianças e jovens de Portugal. Só não desmotivam porque o apelo, mesmo que silencioso, daquelas crianças por quem se propuseram trabalhar, incondicionalmente, não lhes é indiferente, embora estas só mais tarde o venham a reconhecer. Ao contrário do que os sucessivos Ministérios da Educação insistem em passar para a opinião pública, os professores têm sacrificado a sua própria vida pessoal e familiar, em prol da educação.
Para quem não sabe, informo que, hoje em dia, exige-se que os professores sejam pais, mães, psicólogos, investigadores, moralizadores, educadores… e de repente, incompreensivelmente, esquece-se tudo isto, e aplicando à Educação as economias de escala, olha-se para os professores como custos que têm que ser reduzidos; para os alunos como números que têm que ser amontoados; para as aprovações como os números da produtividade…
Só quem desconhece completamente a realidade social de Portugal, e quem não pensa no seu futuro, pode pensar em poupar num dos sustentáculos do Mundo desenvolvido, sem tentar prognosticar as consequências, quer a médio quer a longo prazo, deste tipo de medidas…
A Educação é um dos direitos consignados no artigo 73º da CRP e não se compadece com políticas de cosmética: computadores, multimédias, quadros interactivos, cartões de banda magnética; bonitos e coloridos boletins de informação/professor/ano, editados pelo mesmo Ministério de Educação que quer reduzir os custos; pilhas de planos, PITs, PEIs, PCTs, PEEs, PAAs, PAs, PRs, PAPAs e os respectivos relatórios de avaliação, planificações diárias, mensais e anuais, planificações de actividades, grelhas, matrizes, relatórios para justificar as negativas, relatórios para justificar as positivas, relatórios de avaliação intermédia, relatórios de avaliação final, relatórios do que fez, relatórios do que não fez… Perante isto perguntar-se-ão: será que os professores têm tempo para preparar as suas aulas? Sim têm! Porque com o espírito de sacrifício que lhes é característico, trabalham muito mais do que as 35 horas previstas na lei. Antecipando desde já a resposta, “mas os professores têm muitas férias”, refiro que só por desconhecimento alguém pode fazer esta afirmação. Não devem saber que os professores têm que elaborar os exames a nível de escola, fazer a correcção destes e dos nacionais, que nem seria assim tão complicado se o Ministério não complicasse (intermináveis reuniões para aferição dos critérios de correcção emanados pelo Ministério, um sem número de impressos e grelhas de correcção para preencher e páginas e páginas de descritores para ler, etc.); fotocopiar as provas de exame para que os alunos verifiquem a sua correcção; fazer relatórios de reapreciação de provas, cada vez mais frequentes; fazer os registos das classificações dos exames nos registos biográficos e nos livros de termo; fazer as matrículas; constituição de turmas; elaboração dos horários dos alunos e professores; reuniões de avaliação e de coordenação pedagógica de várias turmas; elaborar inúmeros relatórios, planos e análises no período de interrupção das actividades lectivas do Natal, da Páscoa e do Verão…
Agora dizem que vêm aí mais cortes: nas horas da Direcção de Turma, nas áreas curriculares não disciplinares de Formação Cívica, de Área de Projecto e de Estudo Acompanhado, nas horas previstas no artigo 79º do Estatuto da Carreira Docente, nas aulas de apoio, e sabe-se lá no que mais, ou seja, vão mandar metade dos professores para o desemprego…
Só o desconhecimento da importância e do trabalho desenvolvido pelo Director de Turma pode levar alguém a pensar que pode cortar nas horas destinadas ao exercício destas funções. E como o tempo de redução da componente lectiva, previsto no artigo 79º, tem sido ocupado com as aulas de substituição, acompanhamento dos alunos na sala de estudo, na Mediateca, Biblioteca, etc., por favor, decidam-se… Então não têm dito que as aulas de substituição e os apoios são essenciais para o sucesso escolar? Quanto às áreas curriculares não disciplinares, elas são fundamentais, se ministradas por professores com o perfil adequado, ou seja, por aqueles que se sintam vocacionados para o efeito.
Pensem bem, porque se metade dos professores ficarem desempregados, alguém vai pagar os custos, a curto prazo, com o subsídio de desemprego e, a médio e a longo prazo, os custos da recuperação da Escola Pública!
Os professores, no exercício dos direitos consignados nos artigos 48º, 52º e 77º da CRP e enquanto cidadãos conscientes da sua importância num país que se pretende desenvolvido, vêm com esta petição exigir respeito pelos seus direitos, nomeadamente o direito à dignidade, repudiar a aplicação das economias de escala à educação, reivindicar o direito de serem ouvidos antes de decidirem os seus destinos e lembrar que tudo quanto decidam para a sua classe estão a decidir para o futuro de Portugal.

30 de Novembro de 2010


Os signatários


Assinem a petição e repassem-na para o maior número de pessoas (filhos, irmãos, pais, sogros, tios, amigos, etc. - não é necessário ser professor, basta que tenha BI ou CC e queira defender a escola pública). Mostremos-lhes que exigimos respeito e reconhecimento pelo trabalho que desenvolvemos em prol da educação...

O futuro do nosso país está nas nossas mãos, é preciso zelarmos pelo interesse dos nossos filhos, os cidadãos de amanhã, não podemos comprometer o futuro das nossas crianças e jovens!


São rosas, senhor!


O Milagre das Rosas

D. Isabel de Aragão foi, e é ainda, a mais popular rainha de Portugal. A mulher de D. Dinis é conhecida como Rainha Santa Isabel, santa de muitos altares por esse país fora e lendária pelos muitos prodígios que o povo lhe atribui, entre os quais o célebre milagre das rosas.
Tinha doze anos, quando veio para Portugal para casar com D. Dinis, que muito a amou. Trazia consigo a fama de excepcionais virtudes que a natureza acrescentara aos dotes físicos de uma beleza invulgar, calma e equilibrada. O rei-poeta ficou tão maravilhado que lhe fez tantas doações de senhorios de terra como nenhuma outra rainha portuguesa até então possuíra.
Porém, D. Isabel não foi feliz, porque D. Dinis depressa a trocou por várias outras mulheres, de quem tinha filhos que trazia para a corte. Quase esquecida pelo marido, a rainha procurou manter, sempre, uma serenidade exemplar e tratou, frequentemente, de apaziguar os ódios e lutas que as intrigas palacianas acendiam no filho, D. Afonso IV, e no próprio rei.
O célebre milagre das rosas aconteceu numa época em que D. Dinis pôs cobro àquilo que dizia ser um esbanjamento do tesouro público, por sua mulher.
Foi D. Dinis avisado por um homem do Paço que no dia seguinte, contrariando as ordens reais, sairia D. Isabel com ouro e prata para distribuir pelos pobres. Exaltado, o rei resolveu que ao outro dia iria surpreender a Rainha, quando ela fosse a sair com o seu carregamento de esmolas.
Na dia seguinte, numa gélida manhã de sol de Janeiro, estava já D. Isabel com as aias no jardim, trazendo a ponta do manto recolhida e plena de moedas, quando surgiu D. Dinis, fingindo-se encontrado. Empalideceu a rainha, receosa do que diria o marido se descobrisse o dinheiro que trazia.
Saudaram-se cortesmente e D. Dinis perguntou:
- Onde ides, senhora, tão pela manhã?
- Enfeitar os altares do Convento de Santa Cruz, meu senhor!
- E que levais no regaço, minha rainha?
D. Isabel hesitou por instantes antes de responder:
- São rosas, senhor!
- Rosas, senhora rainha? - gritou cheio de cólera D. Dinis. - Rosas, em Janeiro?! Quereis, sem dúvida, enganar-me!
Digna e muito lentamente, largando a ponta do manto, respondeu D. Isabel:
- Senhor, não mente uma rainha de Portugal!
E todos viram cair-lhe do regaço, do lugar onde sabiam só haver moedas, uma belíssima chuva de rosas brancas.

Pregadeira: rosa em feltragem com cálice de uma bolota. A bola preta é uma bola de esferovite forrada com lantejoulas pretas e missangas transparentes.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Frei Luís de Sousa – a intenção pedagógica


Renovação social


A preocupação com a realidade circundante, leva os escritores românticos a tentar a renovação social através das suas próprias obras. A intenção pedagógica de Garrett com este drama vem precisamente nesse sentido. É tipicamente romântica a ideia de confronto da sociedade com o indivíduo. Em Frei Luís de Sousa, esta ideia está presente no confronto entre o preconceito social e os sentimentos destas personagens. No que diz respeito aos valores exaltados, Garrett demonstra, através desta peça, a importância atribuída à religião, dando um fim cristão às personagens. A coragem e a honra que surgem associadas ao modo de ser português revelam o patriotismo e nacionalismo típicos da ideologia liberal. Uma marca romântica muito explorada ao longo da obra são as atitudes de certa forma exacerbadas de determinadas personagens, pela concentração no drama psicológico e pela hiperbolização dos sentimentos. A exaltação de todos estes valores foi um processo usado por Garrett com a intenção de educar o seu público e assim tornar-se num agente de mudança.



Mensagem anti-sebastianista


Pode verificar-se a intenção pedagógica de Garrett pelo modo como este aborda o sebastianismo nesta obra. Neste sentido, faz uso das figuras de Maria e Telmo para representar a crença exagerada no mito sebastianista. Ao atribuir ao regresso de um companheiro de D. Sebastião consequências funestas, ele pretende mostrar que este apego ao passado representa estagnação e não é favorável para o avanço de uma civilização. O desejo de mudança, a necessidade de intervenção e a responsabilidade em criar uma nova sociedade são características profundamente liberais e sustentadas totalmente por Garrett na sua introdução a esta obra, “Memória ao Conservatório Real”.


Paralelo entre a peça Frei Luís de Sousa e a vida de Garrett

Frei Luís de Sousa

- Casamento de D. Madalena com D. João de Portugal (infeliz no amor)

- Separação de D. Madalena de seu marido (seu desaparecimento)

- Segundo casamento de D. Madalena com Manuel de Sousa Coutinho (feliz no amor)

- Nascimento de Maria

Desenlace

- Regresso de D. João de Portugal – ilegitimidade de Maria


Garrett

- Casamento de Garrett com Luísa Midosi (infeliz no amor)

- Separação de Garrett de Luísa Midosi

- Relação amorosa de Garrett com Adelaide Pastor (feliz no amor)

- Nascimento de Maria Adelaide

Desenlace

- Morte de Adelaide Pastor – ilegitimidade de Maria Adelaide