quinta-feira, 22 de julho de 2010

São Leonardo da Galafura

Foto da Net



São Leonardo da Galafura

À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em direcção ao cais divino.

Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.

Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho!


Miguel Torga

Assunto:
São Leonardo navega vagarosamente ao longo da terra duriense, num antecipado "desengano" do que será "o cais divino" e já vergado às saudades da terra que vai deixar.

O poema divide-se em três partes lógicas que correspondem à divisão formal do poema (às três estrofes).
Na primeira parte, o sujeito poético imagina São Leonardo "à proa de um navio de penedos", a navegar num "doce mar de mosto", em direcção à eternidade, mas já quase arrependido de deixar o "cais humano" (a terra duriense), como que "num antecipado desengano" da vida que está para lá do "cais divino".
Na segunda parte (segunda estrofe), o sujeito poético aponta a razão do desengano referido atrás: lá na eternidade não haverá socalcos, nem vinhedos, em vez da água do Douro haverá charcos de luz, não haverá montes, estendendo-se pelos horizontes até se apagar a cor da vida.
Finalmente, na última parte (terceira estrofe) o sujeito poético regressa à imagem da primeira parte: o santo a navegar cada vez mais vagarosamente em direcção à eternidade, porque "cada hora a mais que gasta no caminho, é um sorvo a mais de cheiro a rosmaninho".
O poema revela-se assim com uma estrutura circular: viagem vagarosa do Santo através do Douro -> razão dessa lentidão -> retorno à morosidade da viagem em direcção à vida eterna.

A nível morfo-sintáctico, é de realçar, em primeiro lugar, o uso do tempo presente na primeira e última estrofes. O presente (é, ruma, avança, passa), no seu aspecto durativo, sugere a permanência, o lento desenrolar da viagem do Santo. Tal sugestão do deslizar lento da acção é ainda dada pelas perifrásticas (a navegar, vai sulcando), pelo particípio "Ancorado "(permanência da acção), pela expressão adverbial "sem pressa" e pelos advérbios "devagar" e "lentamente". Na segunda parte do texto (segunda estrofe) já predomina o tempo futuro (terá, serão, deixarão), porque o sujeito poético se refere à vida eterna (futura), para onde o Santo lentamente se dirige. É reduzido o número de adjectivos, mas os poucos existentes ligam-se a nomes metafóricos importantes na expressão da mensagem poética: "doce mar de mosto", "cais humano", "cais divino", "antecipado desengano", "charcos de luz envelhecida", "rasos os montes".
A ligação frásica, quer entre orações, quer entre períodos, é sempre feita por coordenação (geralmente assindética), o que está de harmonia com a natureza do texto: um desenrolar de factos da viagem de São Leonardo. A oração conclusiva introduzida por "por isso" estabelece uma relação de consequência entre o desengano antecipado do Santo e a sua regalada demora ao longo do Douro. Há apenas uma oração subordinada relativa (que gasta no caminho). Os outros "que" que aparecem no poema, fazem parte da expressão de realce "é que".
Mas é no aspecto semântico que o texto se revela mais profundamente poético. Uma sucessão de metáforas (navio de penedos, doce mar de mosto, capitão, as ondas da eternidade, cais humano, cais divino, charcos de luz, rasos os montes) dá-nos a bela imagem de São Leonardo navegando, já cheio de saudades da terra duriense, em direcção à eternidade, e da qual antecipadamente já está desiludido.. Esta imagem serve admiravelmente para realçar a beleza da terra em socalcos do Alto Douro, perante a qual a própria felicidade eterna é um desencanto. Há evidentemente nesta imagem uma grande dose de sentido hiperbólico.
O apego de São Leonardo à terra duriense é ainda mais realçado, no fim do poema, pela morosidade da viagem (devagar, lentamente, porque cada hora que gastasse a mais no caminho seria um sorvo a mais de cheiro a terra e a rosmaninho.
O sujeito poético imagina o Santo a navegar não num barco celestial, mas num navio de penedos (alusão às serranias transmontanas) e, para mais claramente se identificar com as terras do Douro. Na última estrofe, o Santo já desliza num barco rabelo (embarcação própria do rio Douro, que transportava o vinho para o Porto).
É ainda muito expressiva a hipálage contida na expressão "Lá não terá socalcos nem vinhedos na menina dos olhos deslumbrados" (o deslumbramento não é propriamente dos olhos, mas do Santo). Também se pode considerar uma personificação dos olhos.
Há ainda a sinestesia na expressão "é um sorvo (gosto) a mais de cheiro (olfacto)..."
Quanto ao aspecto formal, o poema é constituído por três estrofes irregulares (onze, nove e sete versos), de métrica igualmente irregular (há versos de duas a onze sílabas); quanto à rima, além de alguns versos soltos em todas as estrofes, há rima emparelhada e interpolada (primeira e segunda estrofes), emparelhada e cruzada (última estrofe).
Neste poema, o ritmo é sempre repousado, sobretudo na última estrofe, de harmonia com o andamento moderado da viagem do Santo.






A Mena na cozinha

Atum com natas
4 latas de atum
1 kg de batatas
1 cebola grande
4 colheres de sopa de azeite
2 colheres de sopa de farinha
5 dl de leite
2 dl de natas
1 colher de sopa de mostarda
1 limão
sal
pimenta
queijo ralado

Descasque e corte as batatas aos cubinhos. Frite-as em azeite. Corte a cebola em rodelas fininhas e leve-as a alourar em 2 colheres de azeite. Quando estiver lourinha, junte o atum e as batatas fritas.

À parte, dissolva a farinha no azeite restante e regue com o leite. Quando estiver a ferver, adicione as natas. Retire do lume e tempere com a mostarda, o sumo de limão, o sal e a pimenta.

Junte ao atum e às batatas fritas e envolva bem.
Deite num tabuleiro que possa ir ao forno .

Polvilhe com queijo e leve ao forno até alourar a superfície.

Entretanto, faça uma boa saladinha.

Bom apetite!


Trabalhinhos:



1 comentário:

Mona Lisa disse...

Olá Mena

Não conhecia o poema de Miguel Torga.
A região é fabulosa para um passeio.

Obrigada pela partilha.
Ahhhh..aproveitei e almocei.
Obrigada. Estava uma delícia, como sempre.

Bjs.